Jonas 4: 1 a 5.

31/03/2012 17:27

 

A história do profeta Jonas é extremamente rica em conflitos e frustrações. Ele é um homem espontâneo e temperamental, suas emoções estão à flor da pele e suas reações aproximam-se da maioria de nós cidadãos modernos diante do estresse. Por este motivo, serve como referencial de orientação de que atitudes tomar ou não frente aos desafios da vida.

            Jonas é conhecido como o profeta rebelde, como aquele que não teve compaixão da grande cidade de Nínive. Que se recusou pregar o arrependimento ao povo ninivita.          Falar do profeta sem procurar entender suas razões é muito injusto. Portanto, procuraremos conhecer sua história anterior e as causas porque fizeram dele alguém tão resistente à missão que tinha sido designado.

*Breve História do Profeta:

            O texto inicia fazendo uma breve apresentação do seu principal protagonista, diz que ele era filho de Amitai, um profeta conhecido de Israel. Como filho de profeta, fora educado de maneira peculiar ao papel desempenhado pelo pai, o qual viria a substituí-lo futuramente de acordo com o costume da época.

            Em Israel a figura do profeta era importantíssima, ele representava a voz de Deus para o povo. Na maioria das vezes era respeitado como homem santo, em outras era odiado ou visto como traidor quando pronunciava sentenças divinas contra a nação. Seu ministério não era fácil, muitas vezes ele mesmo servia como exemplo do sofrimento para as pessoas a quem deveria pronunciar sua mensagem.

            Jonas conhecia muito bem o que os assírios faziam aos nobres e profetas junto com todos seus familiares quando invadiam uma cidade inimiga. Eles decapitavam suas cabeças e expunha em estacas na entrada da cidade. Durante toda sua infância cresceu sob esta ameaça. Diversas vezes os assírios intentaram contra Israel, em todas elas o suspense aumentava na cabeça do jovem Jonas até sua adultez.

            Dessa forma podemos imaginar o pavor e o ódio que o profeta sentia contra seus inimigos. E explicar o repudio ao ouvir a mensagem divina mandando-o ir à Ninive e pregar o arrependimento. Não era de se admirar que Jonas tivesse tal reação, fugir da missão era no mínimo o que poderia fazer. Na verdade o que ele gostaria que acontecesse era que o povo assírio morresse sem ficar um sequer vivo.

            Se pudesse fazer algum bem ao seu país, este bem seria não pregar para aqueles inimigos de maneira que Deus os destruísse todos. Assim não haveria mais ameaças, nem risco de invasão e destruição por aquele povo cruel e pagão. Ao passo que evangelizar significava uma oportunidade de arrependimento e, contudo, perdão da parte de Deus. Jonas sabia que Deus é misericordioso e que perdoaria os ninivitas arrependidos. Isto acontecendo, seria um fortalecimento da nação que destruiria seu povo no futuro. 

            Sua indignação aumenta sem medidas, revolta-se contra os inimigos, contra si e contra Deus. Ele pede a morte pelo menos três vezes em seu livro. Ele vê o mal, a injustiça dos assírios, e a iminente destruição de sua gente, que na sua avaliação era melhor do que os ninivitas. Não pode fazer nada, somente acompanhar o desenrolar de uma história que ele abomina. A vida para ele não faz sentido. As coisas lhe parecem erradas demais. O mundo não é um lugar bom para se viver. Não encontra motivos no que está para acontecer, pelo menos, só enxerga injustiça e maldade.

*Reações de Jonas:

            Visão pessimista da vida. Jonas não sabia de fato o que aconteceria, ele poderia imaginar algumas alternativas, porém, não esperou o fim daquela situação e assumiu previamente posição pessimista. Parafraseando-o é como se falasse: “Está vendo bem que eu disse que Deus pouparia esta gente desgraçada”. Diante de prévia postura não havia nada que pudesse ser bom, de algum proveito ou positivo para ele. Porque ele já estava decidido, fechado a qualquer outra possibilidade além daquilo que desejava.

            O pessimismo é uma postura de defesa, negativa, claro. Em muitos casos pessoas assumem posição pessimista para se defender de desilusões ou decepções na vida. Elas já estão tão marcadas e sofridas que acham por bem se preservarem não esperando “nenhuma falsa ilusão”. É atitude errada e prejudicial porque só alimenta o fel dentro do coração. Pensamentos de que nada dará certo ou expectativa de que mesmo em algo bom repentinamente pode tudo dar errado.

            Quem vive assim não é capaz de desfrutar as coisas boas da vida. Não percebe o bem ou a virtude ainda presentes no mundo. Vive sob constante suspeita de tudo e todos. A grande desculpa dos pessimistas é: “Não sou pessimista, apenas realista”. Como se tudo fosse péssimo mesmo, e como ser realista fosse uma lente através da qual tudo tem de ser visto com defeito e erros. Como se as cores fossem roubadas e a vida só apresentasse tons cinza e opacos. Não podemos negar os problemas e maldades presentes neste mundo, no entanto, enxergar somente eles se constitui uma visão doentia da vida.

            A esperança é um bálsamo para quem vive neste mundo caído e degenerado. Ela funciona como combustível para os bons, impulsionando-os a lutarem pela justiça, verdade e paz no mundo. Jonas viu tudo da pior maneira, cruzou os braços, deitou-se e pediu para si a morte. Veja que postura cômoda e fácil de ser assumida. Condenar e criticar tudo sem mover uma palha para a mudança da situação. Os pessimistas são assim, reagem da mesma forma, pouco ou nada fazem em prol da melhoria do mundo em sua volta.

            Tenha cuidado com uma postura negativista de tudo. Não aceite o pior como normal ou real, sonhe, almeje coisas boas, creia que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Ainda que circunstâncias momentâneas tragam sofrimentos e dores não é assim para sempre, tudo muda, tudo pode mudar.

            Perda da vontade de viver: Depois que Jonas viu o povo se arrependendo, cidade de pé sem destruição alguma, concluiu: “Bem que eu disse, Deus é bom e misericordioso, num vai matar esse povo pecador, eu quero morrer”. O texto diz que Jonas pediu para si a morte. Ele não queria ver o fortalecimento do inimigo e o caos que seu povo iria sofrer. Na sua perspectiva estava tudo perdido, era o fim, pelo menos, para ele. Sua vida não tinha mais porque prosseguir, a morte seria a melhor solução que encontrara. Não preciso dizer que o nome disto é fuga. Aliás, fugir era o que Jonas sabia fazer bem.

            A fuga para muitos é a melhor saída, contanto, que não tenham mais contato com o sofrimento. Esta é uma atitude covarde, todos sofrem, todos tem dores e momentos de profundo pesar. Não há como evitar para sempre o sofrimento, por isso, precisamos enfrentar, aprender com eles, nos construir e se preciso for nos refazer.

            Jonas foi dormir debaixo de uma enramada. Para quem perdeu a vontade de viver tudo que lhe tire a consciência será bem vindo, por isso, tantos estão afundando-se nas drogas, bebidas, jogos, prostituições, psicofármacos e até mesmo no sono. Como um cantor brasileiro falou: “Ah! Que pare o mundo que eu quero descer”. Deus o questiona: Jonas, esse teu ressentimento é razoável? Ele respondeu: “É razoável até a morte”, nem mesmo com Deus Jonas queria conversa ou estava disposto a ser convencido.

            Obstinação é o nome desta atitude do profeta. A pior de todas porque não se permite ponderar, nem está aberta ao diálogo, é o que quer porque quer. Ele se achava dono da razão ou com razão suficiente para rejeitar até a opinião de Deus. Eis o grande perigo de quem se fecha em suas certezas e razões cristalizadas. A morte. Tal pessoa passa a morrer aos poucos.

Ele pediu para si a morte dizendo: “melhor me é morrer do que viver”. A que ponto chegou o homem de Deus. Para ele havia mais sentido na morte do que na vida. Não encontrava mais significado para ser neste mundo. Evidente que este é um processo, não um acidente ou ato repentino. O individuo produz esta forma de vida ao longo de suas experiências. Dependendo do estágio em que se encontra há como reverter o caso, ao passo que se estiver avançado, caminha para a morte. Que pode ser por meio de uma grande depressão ou suicídio ou até mesmo auto-definhamento.

É a desistência da vida. O individuo desiste de lutar pela sobrevivência. Isso ocorre na maioria das vezes porque não encontra mais prazer no que é e no que faz. Note como Jonas se desengana de tudo em sua volta, como nada parece atrativo. Como ele encara a existência como um fardo. Tão grande é o seu sofrimento enquanto existência neste mundo que deseja ardentemente não mais existir.

O nível mais profundo a que alguém pode chegar à depressão é este de perder irremediavelmente o desejo de viver. Não é exagero no caso de Jonas. Por três vezes pediu a morte, na última disse que melhor lhe seria morrer do que viver, finalmente, deita-se sob uma enramada e chama e espera pela morte. É difícil discernir o maior anseio do profeta se é pela morte ou a não continuidade de sua existência. Quem pensa que são as mesmas coisas está enganado. O desejo de morte fundamenta-se no não contato com o sofrimento, no fim da dor. Já a desistência de viver é o desprazer com a vida, o não querer contato com ela em toda a sua forma e expressão.

            Egoísmo desmedido. Jonas se ressentiu profundamente quando a planta morreu, porém, enfureceu-se muito com a não destruição dos ninivitas. O valor que dava as coisas estava relacionado ao quanto lhe era útil, interessante ou não. Aqui está a personificação do egoísmo. O egoísmo é o ego inchado, desequilibrado e carente de cumprimento dos desejos. É o mimo de quem não se resolveu ainda, de quem não cresceu em maturidade e saúde emocional. É a tirania do desejo.

            Para chamá-lo à sensatez Deus pergunta a Jonas: “É Razoável este teu ressentimento”? O Senhor queria levar o profeta à reflexão acerca de sua posição, que ele ponderasse se estava certo quando preferiria a morte de milhares de pessoas, sobretudo, sem discernimento algum espiritual à morte de uma planta que ele não fez esforço nenhum para cultivá-la. Se ele, Jonas, sentiu pela morte de uma planta, quanto mais Deus o Criador de todos os seres deveria comover-se e muito de milhares de humanos.

            Isso nos ensina que na vida nem sempre fazemos escolhas certas. Que nossa razão não é perfeita, que nossa lógica não é a de Deus. Especialmente que a noção que temos de justiça não é justa, e sim, repleta de elementos particulares e falhos. São nossas motivações e preferências que movem nossa justiça. Justiça nem um pouco neutra ou imparcial. Somente Deus é justo!

            O egoísmo transita em todos esses meios e dirige as ações humanas para conseguir o que se deseja ainda que para isso tenha-se que vender Deus como foi o caso de Judas.

*Lições e Aplicações:

O livro não nos conta o fim da história de Jonas, talvez para permitir que cada um imagine como deve ser à luz de sua própria experiência, ou seja, faça seu fim de acordo com o significado e valor que cada um pode atribuir a sua forma de ser no mundo.

Não há nada mais triste do que se chegar a este estágio depressivo na vida. Portanto, devemos ter atenção aos sinais apresentados desde o começo para evitar que cheguemos a um beco sem saída. Será que Jonas tem pistas capazes de nos ajudar? Acredito que sim. Ele começou fugindo.

Fugir não é a melhor escolha. A fuga não é sempre ruim, às vezes um adiamento pode ser ocasião para nos fortalecer e em seguida resolver o problema. O verdadeiro problema está em fugir sempre. Em não ser capaz nunca de entrar em contato com aquilo que traz sofrimento e dor. Depois, ele fugiu da realidade ou da consciência. Sua fuga resultou em maior problema posteriormente.

Manter-se no estado de não consciência intencionalmente mina nossa capacidade de enfrentamento. Já falamos disso acima quando nos referimos às medidas alucinógenas tomadas por alguns para mascarar ou evitar o problema. No caso de Jonas, ele dormia um sono profundo enquanto todos se agitavam na tempestade. Por causa disso, a solução do problema indicada por ele foi: Atirem-me ao mar. Poderia ter sugerido que regressassem ao porto uma vez que fazia pouco tempo que haviam saído e que de qualquer maneira teriam de retornar, pois se livraram da carga e suprimentos. Por maior que seja a dor não recorra a meios alienadores de sua racionalidade, pois comprometerão a capacidade de encontrar uma melhor solução.

Não guarde doenças nem atitudes auto depreciativas: O profeta deixou-se dominar por tendências doentias e de desvalorização pessoal. Não atentou desde o começo para sua inclinação mórbida até chegar a um ponto irremediável. Algumas pessoas costumam guardar doenças ou não tratá-las para chamar a atenção e comiseração alheias. Ainda que a função de tal comportamento seja de receber atenção, carinho ou qualquer tipo de afeto, contudo, não deixa de causar outros danos àquele que age desta forma, poderá se machucar e/ou comprometer a saúde.

Esperar das outras pessoas o sentimento de pena é degradante. O melhor a fazer é cuidar de si. O amor verdadeiro e saudável envolve o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo.  Reconheça seu autovalor! Ame-se! Creia no amor de Deus por você, cresça nele. E tenha certeza de que aqueles que realmente amam você são capazes de lhe enxergar pelo que é com fraquezas e forças, portanto, não é necessário chamar atenção expondo ou criando sofrimentos, a fim de que vejam como você é coitadinho e como precisa de atenção.

+Revmo. Dom Raniere Campos

04/10/2010

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